Imagine estar a caminho da faculdade, seu pneu furar, e, ao entrar em uma agência de publicidade em frente ao local, pedir um emprego ao dono dizendo: eu vou ser bom nesse negócio de publicidade. Portanto, o senhor está no seu dia de sorte, meu pneu não costuma furar no mesmo lugar duas vezes.
Foi assim que ele começou, e com apenas 20 anos, já conquistava um dos primeiros Leões de Cannes para a publicidade brasileira, com uma icônica campanha para as torneiras Deca (O Pingo), que, por sua vez, não tinha fala nem ator. Poucos anos depois, com o comercial Homem com mais de 40 anos para o Conselho Nacional de Propaganda, trouxe para o Brasil o primeiro Ouro no mesmo festival.
Mais do que acumular os maiores prêmios nacionais e internacionais, ele fez com que seus comerciais e campanhas entrassem para a cultura popular brasileira. Exemplos? O Garoto Bombril, o Primeiro Sutiã, Compre Baton/Compre Baton, Deu duro? Tome um Dreher, Os Postos São Paulo, o Cachorro da Cofap, Melissinha, Vulcabrás 752, Bonita camisa, Fernandinho, entre tantos outros.
Esse é, e não poderia ser outro, Washington Olivetto.
O menino de cabelos longos e estilo irreverente, que no dia do pneu furado usava jardineira sem camisa e tamancos, viria a se tornar o pai da publicidade criativa brasileira. Aquele que deu vida a comerciais antológicos que, com o devido respeito aos demais, não têm semelhantes na atualidade.
O publicitário que entrou para a cultura do país como uma figura única e inconfundível. Portanto, limitar-se a falar de seus feitos profissionais, seria reduzi-lo. Ele foi muito mais.
Washington é daquelas pessoas que ficam, seja pelo que dizia, pelo que fazia ou pelo que era. Ou melhor, continua sendo. Nunca teve vergonha de ser quem era e de fazer o que acreditava.
Com ele, aprendi o poder e a utilidade de ser especialista em qualquer assunto por 15 minutos. Que a forma não pode se sobrepor ao conteúdo (a ideia). Que é melhor trabalhar sob tesão do que sob tensão.
Que como líderes criativos devemos administrar os egos para dividir as autorias. Que às vezes devemos desconfiar do briefing do cliente. Que fazer publicidade é igual a seduzir uma mulher. Que devemos criar como se fosse a própria marca criando, sem assinatura própria.
Que Londres é a melhor Nova York do mundo e que São Paulo é a melhor metrópole do mundo porque fica a poucas horas do Rio de Janeiro. E um ensinamento que pude compartilhar com ele, via Direct no Instagram: o hábito de tomar sorvete ou sorbet no café da manhã.
Gostaria de poder desejar o mesmo que ele desejou em sua última frase de sua autobiografia: Viva mais de 100 anos.
Mas isso já não é mais possível. Washington nos deixou no último domingo, aos 73 anos. Alegria nossa foi termos vivido na mesma época que ele. O melhor (Washington Olivetto) de todos os tempos1. Muito obrigado.
Com muita vivacidade, Washington dizia ser o melhor Washington Olivetto de todos os tempos.