O artista arruaceiro đ
Prepare-se para mergulhar na vida de um dos artistas mais polĂȘmicos e fascinantes da histĂłria da arte: Caravaggio.
Conhecido tanto por suas pinturas arrebatadoras quanto por seu comportamento explosivo, este gĂȘnio rebelde nĂŁo sĂł revolucionou a arte com seu estilo Ășnico, mas tambĂ©m transformou as ruas de Roma em seu palco pessoal de caos e controvĂ©rsia.
Entre brigas, prisĂ”es e fugas dignas de um filme de ação, a vida de Caravaggio foi uma constante batalha entre a genialidade artĂstica e a auto-destruição. Se vocĂȘ acha que Kanye West e Ezra Miller sĂŁo polĂȘmicos, espere atĂ© conhecer as loucuras desse mestre do Barroco!
A arte de viver perigosamente â ïž
Michelangelo Merisi, mais conhecido como Caravaggio, nasceu em 1571 perto de MilĂŁo, mas foi em Roma que ele deixou sua marca na histĂłria da arte. Desde cedo, Caravaggio mostrou um talento inato para a pintura, mas tambĂ©m um temperamento volĂĄtil e uma aversĂŁo Ă autoridade, que o levaria a inĂșmeros confrontos e desventuras.
Roma, no final do sĂ©culo XVI e inĂcio do XVII, era um caldeirĂŁo de criatividade e intriga, e Caravaggio mergulhou de cabeça nesse mundo. Suas primeiras obras chamaram atenção pela impressionante naturalidade e pelo uso dramĂĄtico de luz e sombra, uma tĂ©cnica que ficaria conhecida como chiaroscuro. No entanto, seu talento artĂstico era igualado apenas por sua propensĂŁo a se envolver em confusĂ”es.
Brigas, bebedeiras e prisĂ”es đ»
A vida de Caravaggio era uma montanha-russa de altos e baixos. Quando nĂŁo estava pintando, ele podia ser encontrado em bares, jogando e bebendo com amigos e rivais. Essas atividades frequentemente terminavam em brigas violentas.
Mas a vida louca de Caravaggio não se limitava a isso. Ele recorrentemente era preso, sendo detido por diferentes motivos, desde porte ilegal de espadas até insultos às autoridades. Sua natureza impetuosa e desrespeito pelas normas sociais o tornavam uma figura tanto fascinante quanto perigosa.
Ele tinha uma habilidade especial para transformar pequenos desentendimentos em grandes conflitos. Em uma ocasião famosa, discutiu violentamente com um garçom que não soube dizer quais alcachofras foram cozidas em óleo e quais em manteiga.
O garçom respondeu de forma que Caravaggio considerou desrespeitosa, o que resultou em uma briga generalizada, com o pintor quebrando o prato na cabeça do funcionårio do restaurante. O artista acabou preso.
Em outro incidente, a proprietĂĄria de sua casa decidiu tomar medidas drĂĄsticas contra o pintor devido a meses de aluguel nĂŁo pago. Interessada em recuperar o que lhe era devido, ela confiscou os pertences de Caravaggio e o proibiu de entrar lĂĄ atĂ© que resolvesse a dĂvida.
Caravaggio, porém, não aceitou essa ação de forma passiva. Ele decidiu se vingar jogando pedras nas janelas da casa da proprietåria. Não satisfeito, pegou seu violão e tocou o instrumento madrugada adentro, incomodando toda a vizinhança com o barulho.
Entre os diversos processos que respondeu, consta a agressĂŁo a um homem que se interessou por uma de suas modelos. O sujeito passou a sentir ciĂșmes porque sua pretendente posava para Caravaggio.
Isso despertou a ira do artista que o atacou por conta de suas insinuaçÔes e comentårios sobre sua relação com a modelo. O caso foi levado às autoridades, mas Caravaggio, protegido por seus patronos e amigos influentes, conseguiu evitar puniçÔes severas.
Rivalidades artĂsticas đ€
Apesar de seu comportamento turbulento, Caravaggio sempre encontrou protetores poderosos que admiravam seu talento, como cardeais e nobres. Ao mesmo tempo, seu cĂrculo de amizades era composto por uma mistura de artistas, prostitutas e figuras do submundo romano, criando um caldo cultural que se refletia na intensidade emocional de sua arte.
Entretanto, a proteção de mecenas influentes e sua fama de bon-vivant nĂŁo eram suficientes para mantĂȘ-lo longe de problemas. Suas desavenças no meio artĂstico de Roma eram tĂŁo intensas quanto suas obras.
Caravaggio tinha uma rivalidade acirrada com outros artistas. Uma das mais notĂłrias foi com Giovanni Baglione, um pintor que nutria uma profunda inveja do sucesso de Caravaggio.
Baglione, furioso com a ascensĂŁo meteĂłrica do rival, chegou a criar uma pintura intitulada Amor sagrado e Amor profano para competir diretamente com a obra de Caravaggio. Este ato de provocação levou a uma sĂ©rie de trocas de insultos e atĂ© mesmo a processos judiciais. Caravaggio e seus amigos, ridicularizaram o rival em versos satĂricos, o que resultou em uma ação por difamação contra eles.
Outro episĂłdio da animosidade de Caravaggio com artistas foi sua briga com Domenico Passignano, que conseguiu uma cobiçada comissĂŁo para pintar um retĂĄbulo para a BasĂlica de SĂŁo Pedro, o que irritou profundamente Caravaggio. Ele chegou a invadir o estĂșdio de Passignano, perfurando uma tela inacabada do artista.
Caravaggio frequentemente insultava e provocava seus colegas. Em um incidente, ele agrediu um estudante de arte chamado Girolamo Spampa, aparentemente por crĂticas feitas Ă s suas pinturas.
Um conflito fatal âïž
Se vocĂȘ pensa que a vida de Caravaggio exposta atĂ© aqui Ă© polĂȘmica, prepare-se para o episĂłdio a seguir. Entre as muitas brigas e confusĂ”es em que se envolveu, nenhuma foi tĂŁo fatĂdica quanto a disputa com Ranuccio Tomassoni, um jovem valentĂŁo romano.
Tomassoni era conhecido por seu envolvimento em atividades ilĂcitas, cafetinagem e jogos de azar. Ele vinha de uma famĂlia proeminente e sua conexĂŁo com Caravaggio se deu por frequentarem os mesmos cĂrculos sociais e jogatinas comuns na Roma da Ă©poca.
Uma rivalidade entre os dois surgiu e seu ponto culminante foi um duelo de espada em uma quadra de tĂȘnis. O evento resultou na morte do desafeto do artista, atingido na coxa, possivelmente na artĂ©ria femoral.
Inicialmente, acreditou-se que o conflito se deu devido a uma discussão sobre uma partida que saiu do controle. Porém, algumas versÔes sugerem que o duelo, na verdade, jå havia sido premeditado pelos dois.
Caravaggio acabou condenado Ă pena capital. Isso significava que qualquer pessoa nos estados papais tinha o direito de matĂĄ-lo em troca de uma recompensa. Sua vida entĂŁo se transformou em uma sĂ©rie de fugas e exĂlios, movendo-se de cidade em cidade na tentativa de escapar das autoridades.
A primeira parada de Caravaggio foi Nåpoles, onde conseguiu proteção de poderosos patronos locais. Em seguida, decidiu tentar a sorte em Malta, onde foi recebido com honra e até mesmo admitido na Ordem dos Cavaleiros de Malta.
Apesar disso, seu temperamento explosivo nĂŁo mudou, e apĂłs se envolver em uma nova briga foi preso e expulso da Ordem. Acabou conseguido fugir da prisĂŁo e rumou para a SicĂlia.
Nesses anos de exĂlio, manteve-se ativo, pintando vĂĄrias obras importantes. No entanto, sua vida de foragido e os constantes deslocamentos cobraram seu preço, tanto fĂsica quanto emocionalmente.
Caravaggio adoeceu e morreu aos 38 anos. Uma vida curta, mas nada entediante.
As circunstĂąncias de sua morte permaneceram obscuras atĂ© recentemente, com teorias variando desde uma doença sĂșbita atĂ© um possĂvel assassinato. Mas em 2018, apĂłs analisarem seus restos mortais, cientistas descobriram que Caravaggio provavelmente morreu de septicemia, uma infecção generalizada no corpo, contraĂda devido a um ferimento de briga.
E assim se encerrou a histĂłria desse bad boy da arte.