A incrível história do artista que criou um coelho fluorescente 🐰
Arte e biologia podem se misturar?
Na virada do milênio, a comunidade artística foi abalada por uma criação que impactou tanto a ciência quanto a estética. Eduardo Kac, um artista brasileiro nascido no Rio de Janeiro, apresentou ao mundo Alba, um coelho fluorescente.
Parece ficção científica, não é mesmo? Mas é o tema de hoje das Histórias Piradas da PIRA27. Continue a leitura para saber mais!
Uma jornada de inovações 💡
A crônica de Eduardo Kac começa em uma juventude marcada pelo interesse em poesia e artes visuais. Fascinado pelas potencialidades do meio digital, ele foi um dos pioneiros na arte eletrônica.
Nos anos 80, enquanto muitos artistas ainda se firmavam no tradicional, Kac mergulhava de cabeça no universo dos hologramas e da poesia visual, explorando a interseção entre imagem, texto e tecnologia.
Essas primeiras experiências já evidenciavam sua vocação para romper fronteiras. Contudo, foi nos anos 90 que Kac realmente emergiu como um inovador, ao fundar o que chamou de bioarte.
🦜 Em 1994, ele apresentou Essay Concerning Human Understanding, uma obra que envolvia a interação entre um pássaro e uma planta por meio de sinais elétricos, criando um diálogo interespécies.
🌱 No mesmo ano, criou Teleporting an Unknown State, na qual participantes via internet enviavam luz de seus locais para uma planta viva em uma galeria. A planta dependia exclusivamente dessa luz para sobreviver, tornando sua existência um resultado dessa ação coletiva.
💾 Em Time Capsule, de 1997, Kac implantou um microchip em seu corpo, transmitindo dados pela internet e questionando questões de privacidade e a natureza da memória.
🦠 Em 1999, o projeto Genesis envolveu a criação de um gene sintético gerado a partir de um versículo bíblico traduzido para código Morse e depois para sequências de DNA. Foi criada uma bactéria viva com essa base. Os espectadores podiam interagir com a obra, causando mutações na sequência genética.
Arte transgênica 🧬
Se suas obras anteriores já eram provocativas, GFP Bunny elevou a controvérsia a um novo patamar. Kac contatou o Instituto Nacional de Pesquisas Agronômicas (INRA), na França, e ofereceu um pagamento para que eles fabricassem um coelho de acordo com suas especificações.
O animal foi geneticamente modificado para conter o gene GFP (Green Fluorescent Protein) de uma água-viva, o que fazia com que sua pele brilhasse em verde sob luz ultravioleta. O coelho, que nasceu fêmea, recebeu do artista o nome de Alba.
O pequeno mamífero que transcendia a linha entre o natural e artificial levantou uma tempestade de debates. Seria ético manipular geneticamente um ser vivo por motivos artísticos? As discussões cruzaram fronteiras disciplinares.
Organizações de direitos dos animais questionaram o bem-estar da coelha e muitos se perguntaram sobre os limites da intervenção humana na natureza. O artista respondeu com firmeza, argumentando que Alba foi criada sem sofrimento e que sua obra tinha como objetivo justamente levantar essas questões.
Mas as controvérsias não pararam por aí. A comunidade científica também estava dividida. Alguns cientistas viam a obra como uma banalização da engenharia genética, enquanto outros a apoiavam como uma exploração válida das implicações éticas e sociais da biotecnologia.
Kac planejava levar Alba para sua casa em Chicago, onde seria tratada como um animal de estimação comum. No entanto, as autoridades francesas se recusaram a liberá-la.
Trabalhos posteriores 🚀
Em 2003, ele iniciou mais um projeto ambicioso: Natural History of the Enigma. Trabalhando durante seis anos, ele criou uma planta chamada Edunia, que continha seu próprio DNA humano.
Ele explicou como isso ilustra a proximidade entre humanos e outras formas de vida, questionando noções tradicionais de fronteiras de espécies. A planta-animal proponha uma visão mais holística e integrada da biodiversidade.
Após seu impacto com a bioarte, Kac partiu para novos desafios: arte olfativa e arte espacial.
Na arte olfativa, ele propõe uma reavaliação radical do olfato. Kac acredita que esse sentido, frequentemente associado à animalidade e considerado menos significativo, pode ser uma forma de arte profunda e evocativa.
O artista explora como os cheiros podem desencadear memórias e emoções de maneira direta e poderosa. Em Aromapoetry e Osmoboxes, ele utiliza aromas para criar uma narrativa sensorial, elevando o olfato ao status de principal meio de experiência estética.
Na arte espacial, ele desenvolve obras que são enviadas para o espaço ou produzidas lá em cooperação com um astronauta. Um dos trabalhos em andamento é Adsum, um projeto que aterrissará na lua em 2025.
Adsum, que significa estou aqui em latim, é uma declaração poética sobre a presença humana no cosmos. A microescultura foi lançada ao espaço em um foguete da SpaceX.
Hoje, as obras de Eduardo Kac estão presentes em importantes museus ao redor do mundo, incluindo o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), o Victoria and Albert Museum em Londres, e o Museu de Arte Contemporânea de Tokyo. Seu trabalho continua a inspirar e desafiar a todos, mostrando que a arte não conhece fronteiras.
O século XXI está apenas começando!